Agricultura Moderna: tech, pop e essencial
Hoje em dia, ouvimos falar muito sobre agricultura. Ligamos a TV e já recebemos a mensagem de que “agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. Mas de que forma a agricultura é, de fato, tecnológica, popular e essencial?
De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que, atualmente, existam cerca de 7,7 bilhões de pessoas no mundo, número que pode chegar a 9,7 bi em 2050. Dentre todas essas pessoas, podemos afirmar, sem medo de errar, que todas precisam de alimentos para sobreviver, sem exceções. Mas de onde vem esse alimento?

Certamente a base da alimentação vem da agricultura, quer seja tradicional ou moderna. Ainda que muitos de nós tenhamos carne em nossa dieta, além dos grãos e vegetais, é também a agricultura que permite alimentar estes animais, que em última instância nos servirão de alimento – salvo algumas dietas não onívoras. Então, me parece justo darmos o status de “essencial” e “popular” para a agricultura que garante a nossa sobrevivência como indivíduos e como espécie. Mas além do alimento, outras coisas importantes também derivam da produção agrícola e reforçam a importância do agronegócio em muitos setores, como a produção de combustível e roupas. A partir da cana-de-açúcar, é produzido o etanol, utilizado como alternativa energética à gasolina em muitos carros. Já o algodão, permite a confecção de boa parte das roupas da população.
Mas voltando o enfoque na alimentação, vale a pergunta: como é possível produzir o alimento necessário para garantir a nutrição de tanta gente? Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), são produzidos aproximadamente 4,3 bilhões de toneladas de alimentos anualmente no planeta, e esse número terá que crescer para atender ao crescimento populacional. Nesse contexto, a chamada agricultura moderna visa integrar as práticas agrícolas tradicionais, que acompanham a humanidade há milênios, aos novos avanços científicos e tecnológicos modernos, que permitem otimizar aspectos produtivos e nutricionais dos alimentos, bem como melhorar também o uso de recursos naturais e a saúde do meio ambiente.
Técnicas de irrigação mais modernas, com o uso de sensores automáticos integrados a softwares e inteligência artificial, gotejamento das plantas e outras, permitem, por exemplo, um melhor aproveitamento da água. Um maior conhecimento do solo, seus minerais, nutrientes e características, bem como das condições climáticas de cada região, permitem uma melhor escolha do tipo de plantio adequado para cada cultura e em diferentes condições, bem como um melhor entendimento das necessidades de adubação e preparo do solo. Já a biotecnologia, por meio da modificação genética de organismos por técnicas como transgenia e edição gênica, abre um grande leque de mais possibilidades e melhorias, que vão desde aumentar a vida útil de alimentos e seus nutrientes, criando alimentos cada vez mais duráveis e nutritivos, à proteção de cultivos contra pragas, doenças e condições climáticas extremas, sendo capazes de produzir mesmo com todas essas adversidades.
Com as técnicas agrícolas modernas mencionadas, que permitem uma utilização inteligente de recursos naturais, é possível aumentar a produtividade de alimentos de maneira sustentável, fazendo um uso mais consciente dos recursos naturais. Dessa forma, pela possibilidade de se produzir alimentos e outras commodities agrícolas em maiores quantidades, em menor tempo, com menor área de cultivo e menor consumo dos recursos naturais, podemos dizer que a agricultura moderna é, além de essencial e popular, “tech”.
Gabriel Levin é biólogo e doutor em Biotecnologia pela Universidade de São Paulo.